segunda-feira, 24 de agosto de 2015

POBRES ÍDOLOS


O programa Ídolos (do formato original inglês “Pop Idol”) conta já com seis temporadas em Portugal. Confesso que não segui as duas primeiras mas acompanhei as restantes.

O Ídolos é um “talent competition” que tem por objectivo encontrar o cantor com maior potencial para se tornar uma estrela pop. Os diversos candidatos são sujeitos a inúmeras provas, cantando sempre em directo, muitas vezes músicas diferentes daquilo que gostam, ou do que convém à sua voz, passando por provações que muitos cantores profissionais não passam (que tantas vezes cantam em "playback" na TV).

Primeiro, são avaliados pelos jurados do programa, que seleccionam quem chega à fase das galas. Depois, pelo público que vota, através de chamadas de valor acrescentado, decidindo quem permanece em prova, até se encontrar o vencedor final.

Dada a continuada aposta da SIC neste programa, uma coisa está provada: o programa dá retorno à SIC. Quer da publicidade, quer das chamadas de valor acrescentado. Mas será que gera verdadeiras oportunidades para se criarem ídolos?

A verdade é que Portugal não tem uma indústria musical capaz de absorver cantores pop que não saibam fazer mais nada além de cantar. E isso é dramático para os vencedores e finalistas deste programa. É que, findo o mesmo, passam de um estrelato total (com semanas consecutivas de aparições em "prime-time") para o quase completo esquecimento. E mesmo os que sabem compor (muitos dos vencedores são também autores), passam por muitas dificuldades.

Diogo Piçarra (o vencedor da quinta edição) dizia há pouco tempo, numa entrevista, que era um emprego numa operadora de telecomunicações que lhe garantia o sustento. Filipe Pinto (o vencedor da terceira edição) foi notícia por ter visto o seu modesto apartamento no Porto em chamas. Ambos gravam discos com músicas de sua autoria, aparecem na banda sonora de telenovelas, mas “vai-lá-vai” terem uma carreira musical que lhes permita sustentarem-se. De Sandra Pereira (a vencedora da quarta edição) nunca mais se ouviu falar.

Nuno Norte (o vencedor da primeira edição) ainda teve uma oportunidade com os “Filarmónica Gil” (onde o grande compositor João Gil, à falta de voz própria, lá vai dando emprego às novas boas vozes nacionais) mas acabou perdido em actuações modestas com a sua banda de tributo aos Nirvana. Outros (como Sérgio Lucas, o vencedor da segunda edição) tentam a sua sorte noutros programas similares, no festival da canção ou em musicais de Filipe la Féria…

Curiosamente, dos finalistas do Ídolos, quem se safou melhor foram Luciana Abreu e Carolina Torres, ambas não como estrelas pop mas como apresentadoras/actrizes de TV. Ou ainda Luísa Sobral (terceiro lugar da primeira edição), que conseguiu construir uma carreira musical, mas não no ramo pop e só depois de ter estudado música e vivido, durante vários anos, nos EUA.

Enfim, o Ídolos é um programa de televisão em que, como num casino, só a “casa” tem a certeza de ganhar.

Enquanto Portugal continuar a não ter uma indústria musical e continuarem a faltar os programas de TV que promovam verdadeiramente a música e os músicos portugueses, o mais certo é estes “ídolos de Portugal” ficarem votados a um pobre desaparecimento.

(Gabriel Leite Mota, Publicado no P3 a 24 de Agosto de 2015)

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